Estamos em um nova época nos relacionamentos afetivos, esse é um tema recorrente para mim e para muitos. Vejo três questões fundamentais no amor.
Da Expectativa
Porque nos surpreendemos com pessoas que acreditávamos conhecer? Será possível se apaixonar pela pessoa errada? Ou seria muito mais plausível que fantasiamos e projetamos expectativas desmedidas sobre a pessoa escolhida. Um autentica personagem que vive em nossos sonhos e por eles respiram distante de qualquer realidade. Fruto de nossos mais secretos anseios íntimos, que produziu um ser perfeito, nossa alma gêmea. Ocorre que quando nos apaixonamos projetamos todos os ideais nessa nova pessoa e isso é um grande perigo. Quanto mais expectativas na perfeição humana tivermos, mais sujeitos a frustrações e decepções estaremos. Acabamos por confundir a realidade com nossas necessidades e vemos o outro como desejamos que fosse e não como ele se apresenta. Ou seja, com muita facilidade confundimos ideal com o real. E quando não se corresponde toda esse expectativa criada no ideal, o mundo vem abaixo, causando enormes feridas em nossa alma. Gerando sentimentos contraditórios de ódio, paixão, tristeza e às vezes depressão. Acreditamos ter sido traídos, transferindo ao outro o que verdadeiramente é de nossa inteira responsabilidade, incapazes de racionalizar e enxergar que somos os maiores culpados por nossas frustrações. Devemos evitar não colocar todo nosso referencial de vida e valores no outro, deixar de viver a própria vida e viver a vida do outro. Não podemos perder nosso referencial interno, pois ao mantermos nossas referencias, ficara mais difícil alguém nos decepcionar a ponto de nos perdermos de nos mesmos.
Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos» Confúcio
Da Escolha
O coração tem razões que ate a razão desconhece. Mas existem muito mais razoes para acreditarmos na própria razão.
Os instintos que nos guiam em nossas escolhas não são inteligentes, ele nos prende a laços pueris que cria todas as expectativas. O córtex fica anestesiado pelo poder narcótico da paixão.
O amor nasce como disse Freud, da sublimação do instinto, nos levando de animais a seres inteligentes capacitados de um sentimento sublime. Afinal acasalar, procriar, cuidar e proteger a cria, buscar o sustento, são impulsos instintivos da natureza encontrados em todos os animais - é possível ótimo sexo, química corporal, tanto para mulher como para o homem sem nenhuma afinidade de gênios - Mas essa transformação do impulso grosseiro animal para o sublime se faz graças ao uso da razão. Isso quer dizer que para encontrar alguém que compartilharíamos um amor possível devemos confiar primeiro na razão. Enquanto empregar a imaginação é representar os objetos segundo as qualidades secundárias - aquelas que são dadas aos sentidos - empregar a razão é representar os objetos segundo as qualidades primárias aquelas que são dadas à razão-.
Qualidades primarias sao características inerentes, aquilo que o ser é de fato, sua essência, o caráter, valores, consciência moral, educação, cultura. São as características que não modificam, é como somos, e não como estamos ou possuímos. Por isso quando iniciam as crises nos casamentos faz necessário entender que os casais têm que aceitar como são, com todos os seus "defeitos", ou seja, deparamos ai com suas qualidades primarias que preferimos inicialmente relevar, fechar os olhos, afinal às qualidades secundarias eram encantadoras demais. Como na lenda do sapo que virou príncipe, cabe a mulher descobrir seu príncipe. Essa é a forma de ser surpreendido não decepcionado.
Tomados pela paixão, costumamos projetar ao outro características que ele não tem. É como encher um frango de penas de pavão e se apaixonar. Pelo pavão. Com a convivência, caem as penas. Notamos que embaixo da plumagem existe um frango e nos desapaixonamos ou amamos suas qualidades primarias.
Ai, não há casamentos que durem, aos poucos vamos percebendo alguém completamente estranho ao individuo que inicialmente nos apaixonamos, que nenhuma afinidade racional temos. Mas quando guiados pela paixão (instinto) não previmos as questões racionais, e relegamos as mais importantes bases do amor, afinidades de coração, afinidades intelectuais e mentais. Por isso a grande maioria descobre, quando a paixão não mais encobre a realidade que sua ligação com o cônjuge era puramente instintiva, mecânica, física. Nota-se que relacionamentos afetivos que iniciaram após uma genuína amizade, geralmente se tornam relacionamentos muito sólidos.
Ser integral, ser parcial
A união conjugal assumiu outras características ao longo da historia. O casamento nos termos modernos esta cada vez mais distante do passado, o avanço tecnológico, a emancipação feminina, a revolução sexual, a lei do divorcio, métodos anticocepiconais e novas técnicas de reprodução foi fator desencadeador de mudanças profundas.
As mulheres de hoje conquistaram espaço na sociedade, inserção no mercado de trabalho, a independência financeira com isso mais autonomia e participação política e social. Todas essas novas transformações modificaram essencialmente a humanidade em suas principais bases, trazendo profundas mudanças de ordem econômica, social, comportamentais, psicológicas, que transformaram não só a mulher de hoje, mas de forma decisiva o homem moderno.
Com a descentralização do homem do centro da sociedade e familia, esse naturalmente perdeu a força que tinha e o mesmo poder dos séculos passados. As mulheres encontraram seu espaço, hoje concorre praticamente em pé de igualdade em todas as áreas da sociedade. Mas ainda cobram implicitamente antigas posturas desses homens, que naturalmente não existem mais. Desgastada sua coragem o homem não tem a mesma força de caráter, tornam-se acuados e intimidados. Enquanto as mulheres volitam livremente em suas expressões emocionais o homem sofre com o mesmo grau a censura da cultura machista desse passado. Exatamente por todo esse processo que fragilizou o homem de certa forma, ele busca insensatamente uma mulher sensível, para compreendê-lo, algo não tão fácil de encontrar nos dias de hoje.
A mulher busca um homem ambicioso, conquistador, confiante, determinado, destemido, pragmático, independente, profissionalmente competente, financeiramente bem-sucedido e sexualmente impositivo, acreditando que esse correspondera como o provedor magnânimo, o marido admirável dos seus mais recônditos sonhos juvenis.
Aquele que as orgulha e desperta admiração perante a todos. Afinal busca-se aqui claramente um príncipe.
O novo relacionamento
O relacionamento moderno se baseia na individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais um relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
O individuo que se conhece intimamente, encontra prazer na solidão, e sabe viver feliz sem estar em uma relação é o individuo mais capaz de obter sucesso num relacionamento. Ele compreende que a felicidade é uma condição interna, não depende do outro, mas que pode ser compartilhada, sem os vínculos de dependência. Nenhum elemento exterior ao individuo pode atuar em sua vida de modo a fazer mais ou menos feliz. Esse é um estado intimo que nenhuma pessoa tem acesso, depositamos isso ao outro pelo medo e angustia e a incapacidade de assumir o peso de sermos indivíduos independentes no mundo. Essa grande angustia de enfrentarmos o grande dilema de existência que somos únicos carregamos desde nascimento onde abandonamos o conforto e proteção materna. Foi por isso que filosofo existencialista Sartre, declarou que estamos condenados a liberdade.
Alguém incapaz da solidão, que se aborrece com a própria companhia certamente não será boa companhia para ninguém, esse criara uma relação de dependência no outro. O casamento moderno só pode ser feliz com a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. Idéia velha e ultrapassada do romantismo dos séculos passada, não precisa de complementos, essa relação é simbiotica e dependente, onde só haverá frustração de expectativas não satisfeita.
O verdadeiro amor é aquele que te da total liberdade para ser você mesmo. O amor jamais poderá ser uma necessidade vital, um remédio, ou complemento de outra metade. Isso acaba com todas as chances de sermos felizes, o amor só poderá ser completo por pessoas completas. O vínculo amoroso como o componente crucial para a felicidade humana tem sido fonte de frustrações e de sofrimento por toda a historia. Mas nunca a humanidade teve tantas condições de ser verdadeiramente feliz no amor como nos dias de hoje. Trocando o antigo amor de necessidade pelo de desejo. Basta assumir a liberdade!